22 agosto 2009

Naquela manhã ele a acordou com um beijo.
Outra noite de amor sórdido.
Como ela o desejava.
Como ele a satisfazia.
Que eles tinham algo químico,
Eles já sabiam desde o primeiro momento que as bocas se tocaram.
Não se sabe bem o que era aquela energia
Que reações químicas se faziam
Troca de íons
Compartilhamento de eléntrons
Ligações covalentes
Ardentes
Era a combinação:
Pele.
Carne.
Sexo.
Era ele, ela e aquele encaixe
Espiritual, Carnal e Anatômico.
Todas as diferenças
Pareciam calculadas
Como uma conta exata
simétrica, irracional e quântica.
Eles eram uma coisa só.
Almas fundidas
Corpos unidos.
Energia.

Júlia Melo

14 agosto 2009


Apesar do cientificamente comprovado benefício físico,
Ela buscava o pilates para seu bem estar mental.
Era sua meditação diária
E o atalho que ela usava para chegar a si mesma.
Saiu de lá em direção a praia
Naquela trajetória sem destino que ela tão bem conhecia.
Tirou as sandálias.
Teve a sensação incrível de molhar os pés na água
Andou o que pareceu-lhe um longo caminho.
Quando enfim cansou-se, sentou na areia.
Refletia sobre seu último relacionamento
Talvez ela até acreditasse que o amor fosse capaz de mudar as pessoas.
Mas ele, definitivamente, não era o que ela pensava.
O mar estava incrivelmente azul.
E ela sentia falta não dele, mas do que ela acreditava que ele fosse.
Ela o criara.
Ela o fizera sob medida para suas necessidades.
Doce ilusão.
Ele nunca fora capaz de suprir suas carências.
Ele nem sequer quis tentar.
Simplesmente ele não só não era o que ela esperava, como quando ela o percebeu, achou que seria capaz de transformá-lo.
A manhã tinha sido chuvosa, mas o Sol amarelara todo o Céu á tarde, denunciando a primavera que se aproximava.
Ela tinha sua própria forma de ver o mundo.
Mas como de costume, se decepcionara.
Não só por ele não ser,
Mas também por ela nunca conseguir fazê-lo ser.
Um sofrimento só não bastava.
Pediu uma água de coco.
Ele nunca havia sido.
Não era.
E nunca chegaria a ser quem ela esperasse, precisasse ou quisesse.
Ela apenas o inventara.
Concentrou-se em olhar para frente
E parar de pressupor a cabeça dos outros
Não só o mundo dele era simplório
Como ela nunca conseguiria lhe abrir seu mundo de imagens.
Não se pode dar a ninguém nada além daquilo que já existe em si mesmo.
Sentiu a brisa gostosa tocar-lhe.
Alongou-se na areia.
Ou ela desistia dele, ou ia acabar desistindo de si mesma.
Concentrada nos seus pensamentos, mostrava toda sua elasticidade.
Embora aquele alongamento atraísse olhares críticos ou maldosos
Ela mal os percebia.
Aquilo a deixava ainda mais introspectiva.
Para ela, o tempo de ser feliz ainda não tinha começado.
Ela não possuía o que achava que tinha ou merecia,
Mas melhor que isso, ela tinha a si mesma.
Uma paz vagarosamente a envolveu.
Sentiu-se tranquila como a muito não conseguira.
Ela estava de volta.
Era ela livre.
E todo o Universo conspirava por ela



Júlia Melo

13 agosto 2009


Ela acabara de dar o último gole no café caramelado.
Ele a fitou com olhos óbvio de desejo.
Ela sorriu, maliciosamente.
Algo nela contraiu-se
Ele a deixava estranhamente excitada
Levou-lhe a mão à nuca
Ah... que toque quente ele possuía.
Ela sentiu a boca e o corpo molhados
Os lábios se encontraram magneticamente
As línguas se cruzaram
E ela teve aquela sublimação que só o beijo dele proporcionava.
Ela tinha mania de racionalizar o que acontecia
Não foi diferente com aquele olhar.
Sabia exatamente o que aconteceria depois.
Invariavelmente, teve medo.
Contemplou-o por um instante.
Ele a continuara fitando
Ela ajeitou os cabelos, procurando uma forma de ter o que fazer com as mãos
Encarou-o.
"Seus olhos me devoram"- Ela falou
Ele riu
Achando graça na sinceridade que vinha no que ela dizia
Tentou decifrá-la.
"Isso é bom?"- Ele a olhava nos olhos
"Sim e não" - respondeu, tentando não expor tanto o que sentia.
"Como assim 'sim e não'?"- Ele adorava desvendá-la
Ela mordeu o lábio, punindo-se por falar demais.
"Tudo na vida tem um lado bom e um ruim"- Ela tentou se sair pela tangente- "Gostou do café?"
Ele a olhava misteriosamente
"Então me diga o lado ruim e o lado bom"- parecia realmente simples quando ele indagava.
Ela manteve-se calada por um instante
Pensou o quão bom era estarem juntos.
O fogo. Pele. tato. Cheiro.
Pareceu-lhe óbvio
O lado ruim ele jamais imaginara.
Que por outras vezes sofrera
Por ser fogo e carne e a isso ser reduzida.
Tinha algum pavor me seu peito.
Não queria perder o todo.
"O lado bom é fácil pressupor"- Ela sorriu.
Seus olhos eram só malícia, mas seu pobre coraçãozinho sacudia-se.
A conversa ainda demorou alguns intermináveis minutos.
Ele insistia para que falasse.
Ela sabia que falar demais era seu maior problema.
Acendeu um cigarro.
No fundo, não queria passar-lhe suas inseguranças.
Disse baixinho que alguns pensamentos mereciam ficar guardados.
Ele a achou esquizita, mas acabou enetendendo.
Deram as mãos.
Naquela noite como dois animais selvagens, eles se amaram
Era aquela linguagem em que melhor se comunicavam.