25 dezembro 2009

Insone


Atravessando a madrugada
Enquanto meus olhos morrem em lágrimas
O mundo filtra-se pelos meus ouvidos
Não vejo nada senão a própria noite
Meus olhos pegam sons com dedos falhos
Mas nada tem substância aqui dentro
Risos e palavras mortas
Chegam, nadam e dançam
Giram e se entrechocam
Em desenhos de luz que não entendo
Ele acelerou o carro
Estendo meu coração
Ouvindo inquieto
Em busca de algum som definitivo
Na curva, o carro golpeia
Estes olhos insones ensopados
Não acham a claridade
Confundo os sentidos
Ninguém atende ao telefone
Ficarei assim
Até que alguém me lance desta dimensão
Num vôo em céu aberto
Daqui pra próxima nebulosa
Em alguma espaçonave
Até o infinito
Até alguma notícia dele
Até mais.
Julia Melo

23 dezembro 2009

Muitos passos,
algumas decisões.

Quando ando fico comigo,
me ponho a refletir,
me perco,
te acho,
Me desligo.
Morena cantante
Andando colorida
Mergulha em autoanálise
E pula pra outra vida.

Sonhos viram espaçonaves.
A cada passo,
Em pensamentos, soluções,
Estão nossas chaves.

Sigo caminhando
Amando
Sorrindo
Chorando
Pensando
Agindo.

Com o vento no rosto,
vou seguindo...

Julia Melo

22 agosto 2009

Naquela manhã ele a acordou com um beijo.
Outra noite de amor sórdido.
Como ela o desejava.
Como ele a satisfazia.
Que eles tinham algo químico,
Eles já sabiam desde o primeiro momento que as bocas se tocaram.
Não se sabe bem o que era aquela energia
Que reações químicas se faziam
Troca de íons
Compartilhamento de eléntrons
Ligações covalentes
Ardentes
Era a combinação:
Pele.
Carne.
Sexo.
Era ele, ela e aquele encaixe
Espiritual, Carnal e Anatômico.
Todas as diferenças
Pareciam calculadas
Como uma conta exata
simétrica, irracional e quântica.
Eles eram uma coisa só.
Almas fundidas
Corpos unidos.
Energia.

Júlia Melo

14 agosto 2009


Apesar do cientificamente comprovado benefício físico,
Ela buscava o pilates para seu bem estar mental.
Era sua meditação diária
E o atalho que ela usava para chegar a si mesma.
Saiu de lá em direção a praia
Naquela trajetória sem destino que ela tão bem conhecia.
Tirou as sandálias.
Teve a sensação incrível de molhar os pés na água
Andou o que pareceu-lhe um longo caminho.
Quando enfim cansou-se, sentou na areia.
Refletia sobre seu último relacionamento
Talvez ela até acreditasse que o amor fosse capaz de mudar as pessoas.
Mas ele, definitivamente, não era o que ela pensava.
O mar estava incrivelmente azul.
E ela sentia falta não dele, mas do que ela acreditava que ele fosse.
Ela o criara.
Ela o fizera sob medida para suas necessidades.
Doce ilusão.
Ele nunca fora capaz de suprir suas carências.
Ele nem sequer quis tentar.
Simplesmente ele não só não era o que ela esperava, como quando ela o percebeu, achou que seria capaz de transformá-lo.
A manhã tinha sido chuvosa, mas o Sol amarelara todo o Céu á tarde, denunciando a primavera que se aproximava.
Ela tinha sua própria forma de ver o mundo.
Mas como de costume, se decepcionara.
Não só por ele não ser,
Mas também por ela nunca conseguir fazê-lo ser.
Um sofrimento só não bastava.
Pediu uma água de coco.
Ele nunca havia sido.
Não era.
E nunca chegaria a ser quem ela esperasse, precisasse ou quisesse.
Ela apenas o inventara.
Concentrou-se em olhar para frente
E parar de pressupor a cabeça dos outros
Não só o mundo dele era simplório
Como ela nunca conseguiria lhe abrir seu mundo de imagens.
Não se pode dar a ninguém nada além daquilo que já existe em si mesmo.
Sentiu a brisa gostosa tocar-lhe.
Alongou-se na areia.
Ou ela desistia dele, ou ia acabar desistindo de si mesma.
Concentrada nos seus pensamentos, mostrava toda sua elasticidade.
Embora aquele alongamento atraísse olhares críticos ou maldosos
Ela mal os percebia.
Aquilo a deixava ainda mais introspectiva.
Para ela, o tempo de ser feliz ainda não tinha começado.
Ela não possuía o que achava que tinha ou merecia,
Mas melhor que isso, ela tinha a si mesma.
Uma paz vagarosamente a envolveu.
Sentiu-se tranquila como a muito não conseguira.
Ela estava de volta.
Era ela livre.
E todo o Universo conspirava por ela



Júlia Melo

13 agosto 2009


Ela acabara de dar o último gole no café caramelado.
Ele a fitou com olhos óbvio de desejo.
Ela sorriu, maliciosamente.
Algo nela contraiu-se
Ele a deixava estranhamente excitada
Levou-lhe a mão à nuca
Ah... que toque quente ele possuía.
Ela sentiu a boca e o corpo molhados
Os lábios se encontraram magneticamente
As línguas se cruzaram
E ela teve aquela sublimação que só o beijo dele proporcionava.
Ela tinha mania de racionalizar o que acontecia
Não foi diferente com aquele olhar.
Sabia exatamente o que aconteceria depois.
Invariavelmente, teve medo.
Contemplou-o por um instante.
Ele a continuara fitando
Ela ajeitou os cabelos, procurando uma forma de ter o que fazer com as mãos
Encarou-o.
"Seus olhos me devoram"- Ela falou
Ele riu
Achando graça na sinceridade que vinha no que ela dizia
Tentou decifrá-la.
"Isso é bom?"- Ele a olhava nos olhos
"Sim e não" - respondeu, tentando não expor tanto o que sentia.
"Como assim 'sim e não'?"- Ele adorava desvendá-la
Ela mordeu o lábio, punindo-se por falar demais.
"Tudo na vida tem um lado bom e um ruim"- Ela tentou se sair pela tangente- "Gostou do café?"
Ele a olhava misteriosamente
"Então me diga o lado ruim e o lado bom"- parecia realmente simples quando ele indagava.
Ela manteve-se calada por um instante
Pensou o quão bom era estarem juntos.
O fogo. Pele. tato. Cheiro.
Pareceu-lhe óbvio
O lado ruim ele jamais imaginara.
Que por outras vezes sofrera
Por ser fogo e carne e a isso ser reduzida.
Tinha algum pavor me seu peito.
Não queria perder o todo.
"O lado bom é fácil pressupor"- Ela sorriu.
Seus olhos eram só malícia, mas seu pobre coraçãozinho sacudia-se.
A conversa ainda demorou alguns intermináveis minutos.
Ele insistia para que falasse.
Ela sabia que falar demais era seu maior problema.
Acendeu um cigarro.
No fundo, não queria passar-lhe suas inseguranças.
Disse baixinho que alguns pensamentos mereciam ficar guardados.
Ele a achou esquizita, mas acabou enetendendo.
Deram as mãos.
Naquela noite como dois animais selvagens, eles se amaram
Era aquela linguagem em que melhor se comunicavam.

28 julho 2009

Ela estava só.
Todas aquelas pessoas ali encontravam-se num Universo alheio.
Ela acabara se sair do Hospital Psiquiátrico
Onde praticamente residia.
Naquela semana, ela se afogou no trabalho.
Trabalhava naquele ambiente louco
Buscando esquecer suas dores.
Saíra de lá para assistir a uma peca que ainda não começara.
Pensou em acender um cigarro
Para matar-lhe a fome e o tempo.
Estava essencialmente triste.
Pensava nele e no fim daquele conturbado relacionamento.
Ele não era nada do que sonhara
Mas projetou nele todos os seus sonhos.
Ela revirava a bolsa
E não achava o isqueiro
Sentia falta do pai dele
Jogou no chão todos os seus pertences
Como pedaços de si que já não eram.
Remexia a bolsa atrás do isqueiro
E remexia a alma em busca de algum vestígio dele.
Ele terminara tudo pela internet.
Ela amaldiçoava a tecnologia.
Um ponto final no asfalto
Sem um olhar que a compreenderia.
Onde estava aquele por qual se apaixonara?
Ela não sabia.
O que fizeram com ele?
Para onde o levaram?
Já não conseguia acreditar que o problema estava nela.
Embora no fundo, sempre soube que não daria certo.
Por que teimosa era?????
(...)
Ela estava só
Com todos aqueles pensamentos
Sentiu-se arrudeada de fantasmas num cimitério.
Continuava a esvaziar a bolsa enorme.
Não encontrava razão.
Acendeu o cigarro
E tragou aquele veneno como última refeição.
Não havia palavra dita
Não haviam soluções.
Mas ali estava o isqueiro.
Fumou o cigarro e sorriu.
E foi um sorriso cínico e cheio de esperanças.

Júlia Melo

18 julho 2009

Quero meus sonhos mais doces
Comportar-me como se amanhã já nao fosse
Levá-lo comigo por aí...
Quero simplesmente sorrir
Mas não esse sorriso preocupado.
Quero riso de espírito iluminado
Quero viver intensamente o momento
E não gastar meu sofrimento
Nem pedir pra morrer um pouquinho a cada minuto.
Quero morre de amor involuto
Quero acordar e ver quão lindo é o dia
Ouvir no canto dos pássaros a nossa melodia
Quero ter cara de boba
E rir á tôa
Cantarolar pensando em você
Sonhar contigo, depois te ver.
Quero abrir-lhe os braços
Quero nossos mais intensos orgasmos
Quero a sublimação do teu beijo
O ritmo do nosso remelexo
Estar com você até seu último desejo
Até arrancar-lhe o último bocejo.

Júlia Melo

15 abril 2009

Distúrbio do Déficit da Atenção



Começo a escrever um poema
Poderia ser uma redação
Será que vou conseguir terminar???
Distúrbio do Déficit da Atenção

Começo agora a estudar
Acho que passou um avião
Pego-me a olhar o céu
Distúrbio do Déficit da Atenção

Interesse em todas as áreas
Muitas idéias pra pôr em ação
Iniciativa não é o problema
Distúrbio do Déficit da Atenção

Envolvo-me em mil projetos
Pra cada problema, uma solução
Fazendo tudo ao mesmo tempo
Distúrbio do Déficit da Atenção

De onde vem tanta criatividade??
De onde vem tanta imaginação??
O que eu estava falando mesmo??
Distúrbio do Déficit da Atenção

Nunca consigo concluir
Falta-me concentração
Preciso urgente me organizar
Distúrbio do Déficit da Atenção


Júlia Melo
Não sei bem
Vivo esse castigo
Você mexe comigo

Não sei também
O que aconteceu
Por que você desapareceu

Talvez nem saiba
O que sou
Aonde vou

Quero saber
O que sinto
Por que minto

Hei de saber
Se ainda te quero
Se ainda te espero

Quer saber, mesmo??
Até mais!!
Jamais...

Júlia Melo

Distúrbio Metabólico




Risco cardiovascular, Aproveitar;
Doses de insulina.
Tratamento, Pensamento;
Sonhos de Menina.
Loucura, Doçura;
Glicohemoglobina.
Paciência, Insulino-resistência;
Metiformina.

Diabete, ser Tiete;
Bolha de Sabão.
Alegria, Insulinoterapia;
Pés no chão.
Cetoacidose, Níveis de glicose;
Ilusão.

Ah... esse estado hiperosmolar!!!!
Essa vontade de se apaixonar
Comunicação prejudicada
Sensatez sequelada
Tirando forças para lutar

Júlia Melo (18/01/05)

13 abril 2009

Páscoa: reflexão


Páscoa marca um recomeço,
então devemos abrir nosso ovo de páscoa como se estivéssemos abrindo uma nova vida.
Tento reinventar a minha vida sempre.
Tenho tentado muito ser uma pessoa melhor e agir sempre como esperam.
Mas não dá pra fugir muito de si mesma.
Acabo levando no meu ovo de páscoa toda essa hemorragia de emoções,
essa impulsividade,
esse excesso de pensar e opinar,
essa coisa meio inconstante e instável que insisto em não querer ser.
Mas, lembramos que alem de recomeco,
Pascoa significa amor.
O amor ao próximo.
O renascimento do que bom, belo e verdadeiro.
Aproveite e encha seu coração de tudo isso.
Ame, perdoe, nasça de novo, recomece.
Nem tudo está perdido sempre e se vc fizer um bem a alguém, sentir-se-á completo.
Páscoa é dia de amar mais.
Ao próximo, a vida, a deus e a si mesmo.
Ame nessa páscoa, sorria, ajude o próximo, reflita, converse com Deus, agradeça o dom da vida, esqueça tudo de ruim, dê gargalhadas, comas chocolate sem culpa, coma como quiser, coma o quanto quiser, ou o quanto aguentar.
Coma com as criancas, ou feito criança, se preferir.
Lambuze-se, faça graça, se permita ser feliz!
Hoje é páscoa e deixe nascer em vc tudo o que quer para a humanidade.
Beijokas e boa páscoa!!!
Juju

04 abril 2009


Acha que pode quebrar o anel que tenho pra vc?
Pensa que é capazde mudar a si mesmo
E me impedir?
Não queira estreitar as passagens até vc.
Vou invadi-lo
Deixa-lo desprotegido
Arrebater paredes
Vou quebra-lo em mil pedacinhos
Vê-lo se autodestruir
Acha que consegue resistir?
Acredita q vai adquirir poderes
Ou já é intrincecamente imbatível?
Se engana.
Sei jogar com vc.
Conheço seus pontos fracos
Vou me vingar de toda doença que me causou
No tempo certo
Na minha medida
A dose certa e.... Acabo com vc!!!



Ass: Beta-lactamico


** Bom, essa poesia fiz durante a noite. Repassando mentamente o que tinha visto na aula no dia.
Pra quem não tá ligado na versão do que é um B-lactâmico, nao deve fazer o menor sentido.
Mas vou tentar explicar... B-lactamico é um antibiotico, que tem um anel na sua estrutura, que tem mecanismos de quebrar esse anel adiquir resistencia, tal... pode sofrer mutação... enfim, a poesia tem muitos termos médicos, q não dá pra explicar um por um.
Na verdade é meio q uma carta de amor do antibiotico para bacteria.
+ou- isso....
Doidice de quem quer desculpa para nao estudar...
=P


26 março 2009


Os fogos de artifico anunciavam a chegada de um novo ano.
Ela sorriu.
Teve a sensacao de que seria um ano de sonhos.
Olhou para ele que a observara no outro lado do salao.
Aquele vestido branco a deixara ainda mais bonita.
Por um momento, ele teve a certeza que ela era um anjo.
O olhar dos dois se cruzaram.
Sabiam que haviam deixado algo mal resolvido no ano que terminara.
Ela desviou o olhar,
Tentando escapar do obvio.
Ele ficou feliz em saber que os olhos dela ainda brilhavam ao olha-lo.
Ja haviam se comprimentado no inicio da noite.
Ele foi ao encontro dela.
Deram-se as maos.
O conturbado relacionamento acara ha 2 meses.
Eles tinham a mesma essencia
E algumas (ou muitas) diferencas
Talvez ainda se gostassem
Mas jamais entraram em algum consenso.
Tinham visoes diferentes.
So as bocas se entendiam.
E como era doce aquele beijo...
Ela queria dancar.
O pe dele estava machucado.
Ficaram sentados por um instante.
Ele estava como sempre cansado.
Ela como sempre animada.
Se entreolharam e ambos lembraram do que viveram.
Tao intenso e instavel.
E porque jamais dariam certo.
Ele queixou-se de dor no pe.
[Estava sempre se queixando de tudo]
Ela achou engracado.
[Sempre achava graca de tudo]
Olhou-o condolente com a dor dele
Aconchegou o pe em seu colo
Acariciava-lhe o membro machucado
E maliciosa sorriu, imaginando-o.
Ele entendiou-se da situacao.
Olhou ao redor.
Todos comemoravam o ano-novo.
Aquela menina cheia de luz que ele adorava nao parava de lhe fazer carinho.
Ele desejou sua cama.
Ela desejou acompanha-lo.
"Vou embora"- Ele falou.
Mais uma vez ele partira sem explicacao.
Ela ficou algum tempo tentando decifra-lo.
Em vao.
Despediu-se com um ultimo beijo.
E se convenceu de uma vez por todas
que a vida ja era complicada demais para gostar de alguem assim.
Pegou sua taca de Champagne e voltou para festa.
Agora sim, seu ano acabara de comecar.

Julia Melo

13 janeiro 2009

Final de semana
Desejado e Temido
Ás vezes, ela queria desejar 2 sábados.
Dois sábados ao invés de Domingo após Sábado.
Apesar de Domingo ser um dia descanso,
ás vezes tornava-se longo demais.
Ela se esforçava pra se divertir.
O ócio parecia-lhe estranhamente atrativo
Durante o domingo
Procurava o que fazer
Por mais que remexesse armários
E arrumasse coisas guardadas que nunca lhe serviriam
O tempo era lentificado
Quase infinito
Ela remexia todas as coisas esquecidas
Como refletia em tudo que sentia.
A arrumação terminava sempre inacabada.
E Segunda-feira surgia sempre naquela bagunça.