Atravessando a madrugada
Enquanto meus olhos morrem em lágrimas
O mundo filtra-se pelos meus ouvidos
Não vejo nada senão a própria noite
Meus olhos pegam sons com dedos falhos
Mas nada tem substância aqui dentro
Risos e palavras mortas
Chegam, nadam e dançam
Giram e se entrechocam
Em desenhos de luz que não entendo
Ele acelerou o carro
Estendo meu coração
Ouvindo inquieto
Em busca de algum som definitivo
Na curva, o carro golpeia
Estes olhos insones ensopados
Não acham a claridade
Confundo os sentidos
Ninguém atende ao telefone
Ficarei assim
Até que alguém me lance desta dimensão
Num vôo em céu aberto
Daqui pra próxima nebulosa
Em alguma espaçonave
Até o infinito
Até alguma notícia dele
Até mais.
Julia Melo